Uma questão importante, mas negligenciada, que representa um significante desafio diário nas fazendas leiteiras, é manter o conforto do animal. Existe uma larga variedade de estresse ambiental que deve ser considerado e todos tem um impacto direto sobre o nível de produção da vaca. Desses estresses incluem: estresse por calor, falta de ventilação, instalações impróprias e inadequado acesso a água. Condições como estas não são somente estressantes para a vaca, mas também afetam sua fisiologia e produtividade. Felizmente, existem soluções práticas e econômicas aproveitáveis para lidar com essas questões.

 

Redução do estresse por calor

 

Ao abordar problemas de vaca leiteira sobre estresse por calor, é preciso primeiro saber que as zonas térmicas neutras para as vacas são muito diferentes daquelas ideais para as pessoas, e que o estresse por calor é uma função da temperatura e umidade relativa do ar. Em áreas como Kentucky (EUA) que são conhecidos por seus verões quentes e úmidos, o estresse pelo calor é muito mais preocupante do que o estresse causado pelo frio. Quando o índice de temperatura e umidade (ITU) se aproxima de 68, as vacas leiteiras tem uma diminuição da produção de leite causado pelo estresse por calor. Com um ITU de 55 a 60 os efeitos negativos sobre a reprodução podem ser visto. Verificou-se que, em média, as vacas sentem estes efeitos pelo menos um dia em todos os meses do ano, exceto Dezembro e Janeiro. Com base nesses fatos, é evidente que um produtor de leite precisa dar atenção para a melhoria das instalações, diminuindo assim os efeitos do estresse por calor, que são mais relevantes. Estão listadas abaixo algumas práticas que podem ser aplicadas de modo a reduzir alguns dos efeitos do estresse térmico.

 

Ventilação e a orientação da Instalação

 

Há muitos fatores que devem ser levados em consideração ao decidir a orientação de uma instalação para abrigar vacas. A orientação é tipicamente caracterizada pela direção da cumeeira de modo a maximizar o uso de ventilação natural favorecendo a entrada perpendicular dos ventos nos meses mais quentes. Deve-se também levar em conta o efeito da incidência solar que pode causar a não utilização de áreas pelo animal devido ao aumento do calor causado pela luz solar. Construir beirais que se estendem além do limite lateral e orientar a instalação de maneira que impede a incidência solar durante o verão, pode ajudar a reduzir este problema. Currais com uma orientação Norte-Sul tem maior exposição à luz solar do que aquele orientado Leste-Oeste. As baias situadas nas laterais dos currais norte-sul são especialmente afetadas pela radiação solar. Diminuir os efeitos da incidência do Sol é fundamental para a redução do estresse por calor. Uma instalação situada no sentido Leste-Oeste fornece uma proteção mais eficaz. É importante notar que não é sempre fácil orientar um curral desta maneira, devido ao perfil topográfico da propriedade. Em uma fazenda situada em um relevo montanhoso, a orientação da instalação deve ser feita de modo a minimizar os efeitos da radiação solar ao máximo possível.

 

Lanternim para melhor ventilação

 

Lanternim é uma abertura no telhado da instalação, utilizada a fim de facilitar a ventilação natural mantendo um conforto adequado para o animal. Vacas leiteiras devem ser expostas a um fornecimento contínuo de ar fresco e limpo. O lanternim permite que haja uma troca constante de ar, o que ajuda a reduzir a quantidade de calor, poeira, gases, odores e organismos patogênicos, bem como a umidade do interior da instalação. A ideia por trás desta prática é que o ar quente e úmido vai subir e sair pelo lanternim. Verificou-se que quanto maior a inclinação do telhado, melhores serão os resultados. A regra geral que foi desenvolvida a fim de ajudar um produtor a tomar decisão sobre o projeto, é que a inclinação do telhado deve ter pelo menos três centímetros de altura para cada doze centímetros de comprimento. O tamanho do lanternim deve basear na largura da instalação e ter pelo menos três centímetros de abertura para cada dez metros de largura do curral.

 

Paredes laterais

 

As paredes laterais abertas em uma instalação para vacas leiteiras são para facilitar o fluxo de ar. Nada que impede a passagem dos ventos deverá ser colocado em frente das paredes, para facilitar assim a ventilação natural. Um produtor deve optar por paredes laterais com 4-5 metros de altura, e ser pelo menos 75% abertas, a fim de ter resultados benéficos. Para diminuir a entrada de chuva dentro da instalação, um aumento de 0,9 a 1 metro deve ser acrescentado. É importante notar que a ventilação natural também pode ser melhorada com ventilação mecânica, a fim de reduzir ainda mais os efeitos do estresse térmico.

 

Ventiladores e aspersores

 

Ventiladores e aspersores devem ser considerados como uma forma de resfriamento suplementar e quando utilizado em conjunto com uma ventilação natural adequada podem aumentar significativamente o conforto da vaca durante os períodos mais quentes do ano. A localização do ventilador deve ser estratégica, quando instalados deve-se dar atenção para qual parte da operação será realizada em primeiro lugar. O suporte que prende o ventilador deve sempre estar no topo da lista de prioridades. O bico de liberação da água deve sempre estar no topo da lista de prioridades. Além de saber qual setor você gostaria de focar, vacas secas, pré-parto, pós-parto, curral de espera, e claro, a sala de ordenha (Grupo de vacas altas ou baixas se houver).

 

– O posicionamento adequado dos ventiladores em diferentes áreas também deve ser levado em consideração. Ventilador colocado no curral de um rebanho leiteiro é especialmente importante devido ao fato de que estimulam as vacas a descansar no free-stall e ficar mais no cocho de alimentação. A colocação inadequada pode resultar em comportamentos desfavoráveis, como deitar fora da cama. Idealmente, os ventiladores devem ser colocados sobre o corredor de alimentação, assim como em cada linha individual do free-stall. A colocação dos ventiladores deve ser longitudinalmente à instalação, e uma regra de ouro é usada para o espaçamento, não espaçar mais de 10 vezes do diâmetro de suas lâminas. Por exemplo, um ventilador com uma lâmina de diâmetro de 0,9 metros devem ser colocados a menos de 9,1 metros de distância de outro ventilador de 0,9 metros. Espaçamento maior não resultará em um adequado resfriamento para os animais. Os ventiladores devem estar presos na vertical, e localiza-se a uma distancia do chão que não vai interferir na movimentação da vaca. Eles também devem estar ligeiramente inclinados para baixo formando um ângulo de 20 graus com a linha do chão, garantindo uma máxima eficiência de resfriamento dos ventiladores disponíveis.

 

– Juntando os efeitos de resfriamento de ventiladores com aspersores, você pode melhorar a umidade durante os meses mais quentes. A ideia por trás dessa prática é que os aspersores criam gotas de água que molham o pêlo e a pele dos animais, à medida que o vento, vindo dos ventiladores bate sobre as vacas, faz com que evapore as gotas de água esfriando assim o animal. As gotas devem ser grandes o suficiente para molhar adequadamente a superfície da pele e ser aplicado de modo que permita a evaporação da água. Estes sistemas devem ser instalados em uma área sombreada, onde as vacas são mais expostas ao estresse por calor, tais como os cochos de alimentação. Os ventiladores devem funcionar continuamente quando as vacas estão presentes, enquanto os aspersores fazem intervalos variáveis com base na temperatura. Este ciclo “ligado/desligado” permite que haja tempo suficiente para que a água se evapore, e subsequentemente, diminuir o gasto de água.

 

Projeção de baia e cocho

 

Projeção de baia

 

Uma adequada instalação das baias tem um impacto significativo sobre a saúde e desempenho da vaca de leite devido ao fato de que este é o lugar onde elas irão passar a maior parte do seu tempo. O ideal é que o ambiente seja confortável e o mais livre de estresse possível. Conforto animal é definido como a uma forma de minimizar os estressores da vaca gerando um bem-estar e maximizar a produção dos animais. O objetivo de uma baia é proporcionar a vaca um local de descanso limpo, seco e confortável, que é grande o suficiente para acomodar os movimentos naturais dos animais. Ter uma baia adequada elimina o risco das vacas descansarem em ambientes desfavoráveis, lugares sujos como o corredor de passagem, o que pode causar problemas de sanidade, bem como laminite. As dimensões típicas são baseadas no tamanho das vacas, e pode ser visto na tabela abaixo:

 

Fonte: Graves et al. 2005

Como se pode ver, as dimensões das baias são baseadas no peso do animal. É ideal projetar todas as baias para acomodar os animais de maior tamanho que se encontra dentro do seu rebanho. Ao fazer desta maneira, você não tem que se preocupar com a possibilidade de uma vaca não ficar confortável nas baias projetadas e ter que lidar com todos os problemas associados (laminite, higiene, escoriações do jarrete, etc).

 

Projeção do cocho

 

O principal objetivo das instalações para vacas leiteiras é proporcionar um ambiente confortável que permita a realização as suas necessidades comportamentais e fisiológicas naturais. Há muitos fatores a serem levados em consideração quando se fala sobre o cocho que podem influenciar ao acesso a alimentação, incluindo o tamanho do espaço disponível para cada animal, assim como a projeção real da área de alimentação. Espaço inadequado para o animal pode causar problemas de competição fazendo com que algumas vacas não consumam a quantidade adequada de alimento necessária. Observou-se que um aumento no espaço do cocho pode provocar um aumento no consumo de todo o rebanho, bem como a observação de comportamento menos agressivo. Em baias para vacas leiteiras devem ter pelo menos 24″ do tamanho do cocho de alimentação por vaca. As barras que separam as vacas do alimento (ex: headlock), também pode influenciar o comportamento alimentar. Essas grades foram projetadas com a intenção de permitir um igual acesso ao alimento pelos animais, mas alguns destes modelos podem limitar a livre alimentação da vaca. Verificou-se que a utilização de headlocks tipo grades em trilho podem efetivamente reduzir a competição no cocho, bem como melhorar o acesso aos alimentos para vacas durante pico de alimentação. A altura da grade também desempenha um papel importante no conforto vaca. Os cochos devem ser projetados com 0,4-0,55 metros de altura do pescoço do animal, e as grades deve ter pelo menos 1,2 metros de altura. A tabela abaixo mostra as dimensões apropriadas para uma grade de alimentação ao longo da vida do animal com base no seu peso e idade.

 

 

Finalmente, o agricultor terá que decidir se alguma das recomendações acima se encaixa a sua situação individual. Reduzir os estressores ambientais discutidos requer planejamento, bem como manejo intensivo. Nem todas as propriedades podem utilizar estas soluções de maneira que seria adequada para o seu funcionamento. Com o manejo apropriado e um bom planejamento, essas soluções podem ser alcançadas de forma prática e econômica em fazendas com o objetivo de maximizar a rentabilidade.

 

Data de Publicação: 14/08/2013
Autor: Bailey Smith, Barbara Wadsworth, and Donna Amaral-Phillips. Traduzido por Marcos Inácio Marcondes e Ana Carolina Fontes Rocha. Artigo original disponivel em http://afsdairy.ca.uky.edu/extension/facilities/reducingenvironmentalstressors